É
possível ser maçom sem sê-lo? A pergunta é comum. Para o maçom é motivo
de séria reflexão em si mesmo. Como responderia o homem treinado nas
coisas da Arte Real? Poderia formular o seguinte raciocínio? - Já viu em
algum lugar uma estátua representando uma pessoa vigorosa portando um
malho e um cinzel a esculpir-se de dentro de uma pedra? Esta é a
representação simbólica da auto-educação da Maçonaria. Não é fácil
explicar o funcionamento do processo. Também não constitui segredo. Em
resumo a educação maçônica pode apenas ser vivida; é resultado de
salutar convivência. Para dar uma idéia superficial do que ocorre na
Maçonaria é interessante imaginar o homem em sua origem e de como ele
provavelmente construiu sua convivência social.
Na era do homem da caverna, quando o
sol se colocava no horizonte, acendiam-se fogueiras para aquecer, assar
alimentos e iluminar o ambiente. Ao redor destas fogueiras reunia-se a
tribo. Trocavam idéias do cotidiano, da caça, da colheita, dos perigos, e
passavam conhecimentos novos de uns para os outros. Nestas reuniões,
pelo debate, por conversas, em resultado de atos judicativos, e outras
comunicações verbais, cada um desejava sobressair-se ao outro com vistas
a estabelecer sua vontade, e principalmente, de obter a aprovação dos
demais membros do clã, de identificar-se. Esta necessidade de aprovação
do grupo fazia com que o indivíduo se adaptasse ao grupo e aceitasse
códigos de ação e conduta que o identificassem. Trocavam segredos,
confidências de novas técnicas de caça e truques para os mais diversos
fins. Quem traísse tais segredos e os divulgasse a outros de fora do
grupo, no mínimo seria expulso do clã, quando não o matavam. Isto foi
usado por tanto tempo que acabou gravado indelevelmente nos genes do
homem, e assim, passa de geração para geração.
O indivíduo, ao forçar uma
modificação em si mesmo, às vezes até contra suas próprias inclinações,
praticava o que se faz numa loja maçônica; se auto-educava; é o que
significa a alegoria do escultor de si mesmo. O que ocorre dentro da
loja é esta força do grupo sobre o indivíduo. Há quem o designe uma
força mística. Mágico mesmo é quando se observam pessoas a se
modificarem gradativamente para o bem, e isto sem que elas o percebam. O
grupo reunido é uma força poderosa para modificar pessoas. - Somos
seres sociais por excelência! Sociais porque o grupo exerce uma força
incrível sobre cada um de seus membros. Isto é verificável nos grupos de
jovens: usar "piercins", cortar cabelo de forma bizarra, tatuagem, e
outros sinais de identificação externa, são apenas algumas das
modificações forçadas pelos seus iguais. Transfira-se isto para
características internas de valores e princípios, espiritualidade,
emoções e tem-se o que ocorre dentro de uma loja maçônica. É por isso
que não tem como aprender Maçonaria a partir de livros; estes possuem
apenas conhecimento, informação; e isto não é educação. Para tal é
necessária a convivência.
A escola que só transmite
conhecimento sem o aporte de princípios, valores e virtudes, não educa, e
às vezes sequer transmite conhecimentos. Transmitir conhecimento não é
educação. Informação serve quase que exclusivamente para prover o
sustento. E como existe apenas a auto-educação, cada um só muda quando
decide e age para estabelecer uma mudança. E quando esta alteração no
seu eu (self) tem o apoio do ego (livre arbítrio) tem-se a auto-educação
pura e proativa. É sempre orientada para o bem porque a auto-educação
exige sempre sacrifício, sair da zona de conforto e partir para a ação
contra a tendência natural de aderir a vícios, exige força de vontade
hercúlea. Sozinho é difícil, mas não impossível. Em grupo a tarefa é
facilitada exatamente pela pressão advinda da reunião de diversas
pessoas, da energia do pensamento emitido pela coletividade; é genético.
O estímulo vem sempre dos irmãos maçons; membros do mesmo grupo social
influenciam seus iguais; é um provocando o outro para o bem. E como se
tratam quais irmãos, demonstram profundo amor entre si, o perfeito
vínculo de união, é certo que onde se reúnem, manifesta-se aquilo que
conhecem pelo conceito de Grande Arquiteto do Universo; espírito que
permite reunir numa mesma sala pessoas das mais variadas linhas de
pensamentos e religiões para discutirem assuntos da sociedade sem que se
matem. É uma grande idéia; a maior herança que a Maçonaria recebeu do Iluminismo Francês.
É
possível ser maçom mesmo sem portar avental, o símbolo do trabalho em
si mesmo, da auto-educação. O maçom sabe que colocar um avental exige um
tácito juramento, formal e sagrado, com trágicas e sérias implicações
para consigo mesmo se falhar. O simples fato de ser iniciado na
Maçonaria, de portar avental não gera um homem perfeito. Cada loja é a
união de homens imperfeitos, livres e de boa vontade, com uma vontade
imensa de buscar a perfeição, de se ver aprovado pelos iguais. A
virtuosidade aflora quando se entende o benefício da associação e de
como empunhar as ferramentas certas na auto-educação. O dia-a-dia do
maçom é tomado pelo salutar trabalho em si mesmo; trabalha a pedra.
Enquanto uma mão empunha o malho e golpeia com força, a outra mão,
conduzida pela razão, empunha firme e delicadamente o cabo do cinzel. A
ponta afiada do cinzel elimina gradativamente nódoas e excessos da pedra
imperfeita, revelando do interior da rocha disforme o homem
aperfeiçoado, exemplar obra de arte do Grande Arquiteto do Universo.
Esta é a representação do pedreiro esculpindo-se da rocha, é a
representação da sua auto-educação pelo uso da razão equilibrada pela
emoção e espiritualidade.
Então é possível tornar-se maçom sem sê-lo? Se faltarem os camaradas de caminhada é difícil, mas possível. Existem
muitos homens que nunca viram o piso de um templo maçônico, são maçons
sem avental cujo comportamento probo e valioso para a sociedade os
faz agirem quais obreiros da pedra, faz deles membros da ordem maçônica
sem formalizar sua aderência pela iniciação. Quando identificados, a
Maçonaria os convida a fazerem parte da Instituição para reforçarem as
colunas de seus templos, de somar força com outros homens de igual
disposição mental e espírito servidor da humanidade. É o motivo da
entrada na Ordem Maçônica ocorrer sempre em resultado de um convite e
não de vontade explicita do pretendente. É este acúmulo de líderes
sociais num só lugar a razão de com freqüência ouvir-se que a meta de
todo maçom deveria ser o de acabar com a Maçonaria; fechar seus templos.
Utopia? Mas, e se todos os homens se tornarem perfeitos, qual será
então a utilidade da Ordem Maçônica?