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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O primeiro Iniciado no Mundo

As pessoas adstritas ao simbolismo ou pouco versadas na  simbologia debocham e riem do Reverendo James Anderson (1680-1739) atribuindo a ele a frase: "Adão foi o primeiro maçom, iniciado por Deus no paraíso".  Se verificarmos o texto original de "The Constitution of The Fraternity of Accepted Free Masons" (Constituições de Anderson, 1723) veremos que Anderson escreveu o seguinte:
 
"Adão, nosso primeiro Antepassado (first Parent), criado a partir da Imagem de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, deve ter tido as Ciências Liberais, especialmente a Geometria, escritas em seu Coração (written on his Heart) pois mesmo desde a Queda, encontramos os Princípios dela nos Corações de seus descendentes e que nos processo do tempo (in process of time), têm sido depuradas em um conveniente Método de Proposições, pela observação das Leis da Proporções..."
 
O estudo do simbolismo e a simbologia parecem ser a mesma coisa. Mas são diferentes, tanto pelo objetivo quanto pelo método. Os expertos (e espertos) em SIMBOlismo restringem-se à expressão e à interpretação de símbolos. Já a SIMBOLOGIA estuda esses mesmos símbolos pelo prisma aprofundado do humanismo. James Anderson era  mestre em artes e doutor em teologia. Quando redigiu a Constitution of Free Masons, Jean Théophile Desaguliers estava ao lado dele.  Desaguliers era membro da  Royal Society de Londres, assistente de  Isaac Newton, professor de filosofia, inventor do planetário e terceiro GrãoMestre da  Grand Lodge of England, entre 1719 e 1720, e um dos pais da moderna maçonaria. Os textos atribuídos a James Anderson foram compilados sob a supervisão de Desaguliers. Rir de Anderson é um apanágio daqueles que estão à altura de rir da simbologia, dos graus acadêmicos M.A. e D.D. que o Reverendo possuía, do prestígio da Royal Society e da fundação da moderna maçonaria.
 
Partamos do princípio de que as ordens iniciáticas têm por objetivo despertar o  potencial interior do ser humano e auxiliá-lo na redescoberta de sua relação com o Cosmos. Consideremos que cada pessoa seja portadora dos arquétipos que promovem sua evolução - arquétipos e leis  escritos em seu Coração. Nada há de cômico ou risível na afirmação simbólica do Dr. James Anderson. Pelo contrário: é trágica a perspectiva de que o homem seja um vazio destituído de qualquer base sobre a qual possa sustentar seu templo interior. As etapas para se alcançar o conhecimento partem daquilo que vem antes ("a priori", em latim) e são, no caso da afirmação de James Anderson, uma anterioridade lógica sustentada nas noções de: 1) um Mestre primordial (Deus  ou Imagem [representação] de Deus); 2) uma transmissão de potencialidades básicas (iniciação); 3) um recipiendário (Adão ou, se preferirem, nossos primeiros pais - first parent); 4) uma escola (templum - paraíso) preparado para aquele remoto cerimonial.
 
Quem estuda SIMBOLOGIA reconhece na afirmação do Dr. James Anderson os  quatro pontos necessários para a comunicação de um pensamento sob forma figurada  - uma ciência livre (liberal science) em especial as justas e perfeitas proporções (Geometria) gravadas em seu íntimo (Coração). O Adão a que Anderson se refere é o admah hebraico ou "criatura feita da mãe-Terra". O Deus Iniciador é o (ainda) Desconhecido e Inefável.
 
A comunicação alegórica (iniciação no paraíso) deve ser compreendida mediante vários aspectos: num primeiro estágio da inteligência, o objeto comunicado passa pelas funções psíquicas da  percepção e do  julgamento: vejo  isso; isso é bom ou é mal!  - alegoria da árvore do conhecimento do bem e do mal.  No segundo estágio, mais evoluído, ocorre a decomposição do objeto através da razão  - o que é  isso? como é isso?  No terceiro, há uma transcendência, pela contemplação e pela iluminação, daquilo que foi comunicado - é o daqui para onde. Se não conseguimos conceber o conhecimento primordial, a forma de transmissão havida "a priori" (tempo) e uma objetividade factual (espaço) é porque estamos formal e prematuramente iniciados. Se não temos a percepção, o julgamento e o raciocínio superior, não podemos contemplar em conformidade com os três estágios mencionados. O despertar daquele potencial interior torna-se impossível e o reencontro do homem com o transpessoal, uma utopia.
 
É verdade que convivemos com pessoas que, apesar de terem recebido a iniciação apenas formal, negam os princípios da transmissão primordial. Por causa disso o formalismo e o ritualismo tendem a suplantar o conteúdo filosófico nas Ordens e nas Lojas que as compõem.
 
Por outro lado, é justamente nessa relação entre o Mestre primordial (D'us) e o recipiendário inocente (adão/adam/adamah) que reside a tradição judaica, os cânones da cabala e sua relação mais íntima com as iniciações (especialmente a maçônica). Vou além: mesmos as religiões  - monoteístas ou politeístas  – partem de princípios idênticos ao  Bereshit hebraico seguido do  Adam Kadmon  - homem arquetípico ou  anthropos  - elementos cuja verdadeira compreensão e  realização determinam o nível de evolução alcançado pelo discípulo, pelo aprendiz e pelos que almejam a maestria. Religiosos ou não, mesmo os mais radicais, céticos e materialistas admitem um  process of time - processo do tempo nas palavras de Anderson, que equivale aos enunciados da evolução.
 
Quando o Dr. James Anderson sugeriu que Adão fora o primeiro maçom, iniciado por Deus no paraíso, ele quis expressar a seguinte verdade: o homem traz dentro de si (written on his Heart) as ferramentas necessárias para construir uma relação harmoniosa com seus semelhantes (templo-outro), com o templo-planeta e o templo-universo. Todo aquele que bate nos portais da Iniciação é um Adão (Adamah) que retoma um lugar entre nós, na oficina do Cosmos, dispondo-se a utilizar os instrumentos de trabalho  - "especialmente a Geometria", diz Anderson referindo-se alegoricamente à Moral das justas e perfeitas proporções entre o homem e seu meio.