Empreguei todos os esforços na construção do meu templo. Com altivez fiz o traçado de seu desenho. Com a força da alavanca removi os pesados obstáculos do caminho: Retirei pedras, arvores e desviei cursos d'água. Com o esquadro tracei perpendiculares, com o prumo ergui as colunas, com a régua alinhei as paredes, dividi o tempo e na minha prancha anotei todos os cálculos.
Ao ver meu irmão tentando construir seu próprio santuário, ofereci-lhe meus instrumentos; já que considerava meu prédio como um ótimo modelo. Além do mais, considerei que minhas ferramentas seriam ideais; haja vista terem sido bem utilizadas na minha suntuosa construção.
Ao término de seu empreendimento, percebi que o templo do meu irmão havia sido mal construído. Seu traçado revelava caminhos tortuosos; a alavanca havia sido utilizada com força irracional, eis que foram removidos obstáculos desnecessários; As perpendiculares haviam sido mal traçadas; As colunas apresentavam inclinação; As paredes revelavam lombadas e o tempo despendido na edificação do seu prédio estava em descompasso com o meu projeto.
Chamei meu irmão e sem reservas passei a comentar:
- Irmão, se você não percebeu, seu templo foi mal construído. Veja: O projeto apresenta linhas sinuosas; Você removeu pedras que poderiam adornar seu templo; Aquele regato poderia trazer arrefecimento ao prédio; Olha você não utilizou bem o esquadro; As perpendiculares não formam ângulos de 90°; As colunas de sustentação estão inclinadas; Suas paredes apresentam relevos indesculpáveis; Além do mais, o tempo despendido na obra está fora do projeto. Sinto muito, mas seu templo vai ruir.
Desapontado meu confrade respondeu:
- Irmão, não sei o que deu errado. Utilizei os instrumentos, as fórmulas e o modelo que você me deu, tudo do jeito que você utilizou na construção do seu templo. Veja bem, com seu esquadro tracei as linhas; Com sua régua tirei as diferenças; Com o seu compasso tracei as distâncias; Com o seu prumo alinhei as paredes; Com a sua a alavanca removi tudo o que tinha pela frente; Bati no sinzel com o malhete e quebrei as pedras do meu alicerce. Segui rigorosamente o seu exemplo, isto é, o seu projeto ideal.
Retruquei imediatamente dizendo:
- Isto não é possível, vamos verificar o material.
Para minha surpresa, percebi que meu templo era exatamente igual ao do meu irmão, isto é, também apresentava os mesmos defeitos. Corri e verifiquei as ferramentas, pois aquilo não poderia ser possível.
Fiquei estarrecido. Meu esquadro não formava um ângulo de 90°; Meu prumo não tinha sido aferido; Minha régua apresentava variações; A estupidez da minha alavanca premia força desnecessária na remoção dos obstáculos; Meu sinzel não foi forte suficiente para desbastar a pedra bruta. Corri e peguei a prancha, verifiquei que meu projeto estava em descompasso com o tempo necessário para a construção de um edifício maduro e perfeito.
Foi então que percebi que no cimento místico, a humildade havia sido substituída pelo orgulho, pela vaidade e pelo egoísmo. Verifiquei que às vezes não damos conta de que nosso próprio edifício não constitui o melhor modelo para os outros.
Compreendi que cada santuário requer seu cronograma individual; Que o obreiro deve aferir constantemente seus instrumentos, pois eles estão sujeitos ao desgaste erosivo causado pelo tempo; Que nem todos os obstáculos devem ser removidos, pois às vezes é preciso seguir o exemplo dos rios, que não precisam remover todas as pedras do seu caminho para tingir seu objetivo; Que as dificuldades existem para orientar o caminho e o aprendizado de cada um; Que nem sempre servimos de exemplo para a edificação dos outros.
Feitas estas observações, fui pego pelo desanimo e pelo desgosto. E quando a tristeza quis tomar conta de mim, percebi que aquela arvore que havia sido arrancada impiedosamente renasceu mais forte, mais bela e mais frondosa.
Foi ai que compreendi o quanto temos em comum com as arvores. Elas não morrem quando são arrancadas. Na verdade, elas se eternizam através de suas sementes, renascendo sucessivamente mais fortes e bonitas, por tempos indefinidos.
Observei que fazemos parte do processo natural de desconstrução e de construção uns dos outros, sem que isso se constitua em mérito ou demérito para alguém, pois tudo faz parte do mesmo plano divino de aprendizagem para o alcance da perfeição.
De ante disso, é preciso compreender que somos protagonistas de uma guerra espiritual, na qual cada batalha é travada contra nós mesmos e que as armas a serem utilizadas são o amor, a caridade e a humildade.
Nesse entendimento, deduzimos ainda que somos regidos por uma lei maior e avassaladora, que se encontra escrita em nossas consciências e da qual é impossível escapar do seu alcance; visto que, ela está fora do controle dos homens e nos impõe um eterno e amoroso aprendizado a cada renascimento, rumo à evolução espiritual.
Nova Russas-CE, 25 de março de 2015
Everaldo Barroso de Sousa - COMP.'. M.'.
Mat. 17.497